São Francisco de Assis

São Francisco de Assis

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Capítulo 6. Como S. Francisco abençoou o santo Frei Bernardo e o deixou como seu vigário, quando passou desta para a outra vida.


Era Frei Bernardo de tanta santidade, que S. Francisco tinha por ele
grande reverência e freqüentemente o louvava.

Estando um dia S. Francisco devotamente em oração, foi-lhe
revelado por Deus que Frei Bernardo, por permissão divina, devia
sustentar muitas e pungentes batalhas com o demônio.

Pelo que S. Francisco, tendo grande compaixão do dito Frei
Bernardo, a quem amava como a filho, muitos dias orou com
lágrimas, rogando a Deus por ele e recomendando-o a Jesus Cristo,
que lhe desse vitória sobre o demônio.

E orando assim devotamente S. Francisco, Deus lhe respondeu:
"Não temas, porque todas as tentações, com as quais Frei Bernardo
deve ser combatido, são por Deus permitidas como exercício de
virtude e coroa de mérito; e finalmente de todos os inimigos
alcançará vitória, porque ele é um dos comensais do reino de Deus".

Da qual resposta S. Francisco recebeu grandíssima alegria e rendeu
graças a Deus: e daquela hora em diante lhe dedicou sempre mais
amor e reverência.

E bem lho demonstrou não só em vida mas até na morte. Porque,
vindo S. Francisco a morrer, como o santo patriarca Jacó, estando
em tomo dele seus dedicados filhos doridos e lacrimosos pela
partida de tão amado pai, perguntou: "Onde esta o meu
primogênito? Vem a mim, filho, para que a 'mia alma te bendiga,
antes de minha morte".

Então Frei Bernardo disse em segredo a Frei Elias, que era vigário
da Ordem: "Pai, coloca-te à mão direita do santo, para que ele te
abençoe".

E, colocando-se Frei Elias à mão direita, S. Francisco, que perdera a
vista pelo muito chorar, pôs a mão direita sobre a cabeça de Frei
Elias e disse: "Esta não é a cabeça do meu primogênito Frei
Bernardo".

Então Frei Bernardo adiantou-se à esquerda; e S. Francisco,
estendendo os braços em forma de cruz, colocou a mão direita à
cabeça de Frei Bernardo e a esquerda na de Frei Elias, e disse a Frei
Bernardo: "Abençoe-te o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo com
todas as bênçãos espirituais e celestiais em Cristo: pelo fato de
teres sido o primeiro escolhido nesta Ordem para dar o exemplo
evangélico e seguir a Cristo na pobreza evangélica; porque deste o
que possuías e o distribuíste inteira e livremente com os pobres pelo
amor de Cristo, mas ainda te ofereceste a ti mesmo nesta Ordem em
sacrifício de suavidade.

Bendito sejas, pois, por Nosso Senhor Jesus Cristo e por mim, seu
pobrezinho servo, com bênçãos eternas, quer caminhando,
repousando, velando e dormindo, vivendo e morrendo. Quem te
bendisser fique cheio de bênçãos e quem te maldisser não fique
sem punição.

Sê o principal entre os teus irmãos, obedeçam todos os irmãos ao
que ordenares: terás licença para receber e expulsar a quem
quiseres e nenhum irmão terá poder sobre ti, e ser-te-á permitido ir e
habitar onde te aprouver".

Depois da morte de S. Francisco os irmãos amaram e reverenciaram
a Frei Bernardo como a pai venerável: e estando a morrer, vieram a
ele muitos irmãos das diversas partes do mundo, entre os quais, o
hierárquico e divino Frei Egídio, o qual com grande alegria disse:
"Sursum corda, Frei Bernardo, sursum corda"; e Frei Bernardo disse
em segredo a um irmão que preparasse para Frei Egídio um lugar
apto à contemplação, e assim foi feito.

Chegando Frei Bernardo à hora da morte, mandou que o erguessem
e falou aos irmãos que estavam diante dele, dizendo: "Caríssimos
irmãos, não vos quero dizer muitas palavras: mas deveis considerar
que no estado de religião em que vivi vós viveis, e no em que estou
agora vós ainda estais, e acho isto em minha alma, que por mil
mundos iguais a este não teria querido servir a outro senhor senão a
Jesus Cristo: e de todos os pecados que cometi me acuso e
apresento a minha culpa ao meu Salvador Jesus e a vós.

Rogo-vos, irmãos meus, que vos ameis uns aos outros"- E após
estas palavras e outros bons ensinamentos, deitando-se na cama, sua face encheu-se de esplendor e alegria desmedidos, de que os
irmãos muito se maravilharam; e naquela letícia sua alma
santíssima, cercada de glória, passou da presente à bem-aventurada
vida dos anjos.


Pelo louvor e pela glória de Cristo. Amém.

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